terça-feira, 8 de dezembro de 2009

E-mail para o apóstolo Paulo





Amado apóstolo:

      Estou escrevendo para colocá-lo a par da situação do Evangelho que um dia você ajudou a propagar para nós gentios, e que lhe custou a própria vida. As coisas estão muito difíceis por aqui. Quase tudo o que você escreveu foi esquecido ou deturpado.

      Você foi bastante claro ao despedir-se dos irmãos em Éfeso, alertando que depois de sua partida lobos vorazes penetrariam em meio à igreja, e não poupariam o rebanho. Palavras de fato inspiradas, pois isso se concretiza a cada dia.

      Lembra-se que você escreveu ao jovem Timóteo, que o amor ao dinheiro era a "raiz de todos os males" [1Tm 6.10]? Quero que saiba que suas palavras foram invertidas, e agora se prega que o dinheiro é a "solução" de todos os males.

      Também é com tristeza que lhe digo que em nossa época ninguém mais quer ser chamado de pastor, missionário ou evangelista, pois isso é por demais humilde: um bom número almeja levar o título de apóstolo. Sei que em seu tempo, os apóstolos eram "fracos... desprezíveis... espetáculo para os homens... loucos... sem morada certa... injuriados... lixo e escória" [1Co 4.9-13]. Agora é bem diferente. Trata-se de uma honraria muito grande: acercam-se de serviçais que lhes admiram, quando viajam exigem as melhores hospedarias e são recebidos nos palácios pelos governantes.

      Eles não costumam pregar seus textos, pois você fala muito da "Graça" e da "liberdade que temos em Cristo" [Gl 2.4]. Isso não soa bem hoje, pois a Igreja voltou à "teologia da retribuição" da Antiga Aliança (só recebe quem merece), e liberdade é a última coisa que os pastores querem pregar à suas ovelhas.

      Você não é bem visto por aqui, pois sempre foi muito humano, sem jamais esconder suas fraquezas: chegou até reconhecer contradições internas, dizendo que não faz o bem que prefere, mas o mal, esse faz [Rm 7.19]. Eles não gostam disso, pois sempre se apresentam inabaláveis e sem espinhos na carne como você. A presença deles é forte, a sua fraca [2Co 10.10], eles são saudáveis, você sofria de alguma coisa nos olhos [Gl 4.13-15], eles jamais recomendariam a um irmão tomar remédio, como você fez com Timóteo [1Tm 5.23], mas aqui eles oram e determinam a cura - coisa que você nunca fez.

      Você dizia que por amor de Cristo perdeu "todas as cousas" considerando-as refugo [Fp 3.8]. As coisas mudaram, irmão. Agora cantamos: "Restitui, quero de volta o que é meu!".

Vivo em uma cidade que recebeu o seu nome, e aqui há um apóstolo que após as pregações distribui lencinhos vermelhos encharcados de suor, e as pessoas levam pra casa, como fizeram em Éfeso, imaginando que afastarão enfermidades [At 19.12]. Sim, eu sei que você nunca ordenou isso, nem colocou como doutrina para a igreja nas epístolas, mas sabe como é o povo....

      Admiro sua coragem por ter expulsado um "espírito adivinhador" daquela jovem [At 16.18], embora isso tenha lhe custado a prisão e açoites. Você não se deixou enganar só porque ela acertava o prognóstico. Hoje há uma profusão de pitonisas e prognosticadores no meio do povo de Deus, todavia esses espíritos não são mais expulsos, ao contrário, nos reunimos ansiosos para ouvir o que eles têm a dizer para nós.

      Gostaria de ter conhecido os irmãos bereanos que você elogiou. Infelizmente, quase não existem mais igrejas como as de Beréia, que recebam a palavra com avidez e examinem as Escrituras "todos os dias para ver se as coisas são de fato assim" [At 17.11].

      Tem hora que a gente desanima e se sente fragilizado como Timóteo, o seu companheiro de lutas. Mas que coisa bonita foi quando você o reanimou insistindo para que reavivasse "o dom de Deus" que havia nele [2Tm 1.6]. Estou lhe confessando isso, pois atualmente 90% dos pregadores oferecem uma "nova unção" para quem fraqueja. Amo esta sua exortação, pois você ensina que dentro de nós já existe o poder do Espírito, dado de uma vez por todas, e não precisamos buscar nada fora ou nada novo!

      Nossos cultos não são mais como em sua época, onde a igreja se reunia na casa de um irmão, havia comunhão, orações, e a palavra explanada era o prato principal.... as coisas mudaram: culto agora é "show", a fumaça não é mais da nuvem gloriosa da presença de Deus, mas do gelo seco, e a palavra é só para ensinar como conseguir mais coisas do céu.

      O Espírito lhe revelou que nos últimos tempos alguns apostatariam da fé "por obedecerem a espíritos enganadores" [1Tm 4.1]. Essa profecia já está se cumprindo cabalmente, e creio que de forma irreversível.

      Amado apóstolo, sinto ter lhe incomodado em seu merecido descanso eternal, mas eu precisava desabafar. Um dia estaremos todos juntos reunidos com a verdadeira Igreja de Cristo.

Maranata!

Pr. Daniel Rocha

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